4 de fevereiro de 2014

Alice: No País das Maravilhas e Através do Espelho

“If I had a world of my own, everything would be nonsense”




Quando eu era criança eu era apaixonada por certas histórias. Minha preferida era ‘pele de asno’ ou ‘bicho peludo’, dos irmãos Grimm. Mas eu gostava de um monte de outros contos de fadas. Mas havia duas histórias das quais eu não gostava: Chapeuzinho Vermelho e Alice no País das Maravilhas.

Meu problema com Alice não era um só, eram muitos. Eu achava a Alice uma menina muito chatinha e inconsequente. Não aguentava ela crescendo e diminuindo toda hora e, no fim, ela acordar e perceber que tudo foi um sonho. Desde pequena eu gostava de histórias coerentes.

Mas o tempo passou e eis que aos quase 24 anos eu resolvi ler a obra do inglês Lewis Caroll, depois de tanto ensaiar. Li a belíssima edição de bolso de luxo da editora Zahar. Uma curiosidade é que a tradução de Maria Luiza X. de A. Borges foi vencedora da categoria no Prêmio Jabuti. A edição traz os dois livros: “Alice no País das Maravilhas” e “Alice Através do Espelho” com as ilustrações originais, feitas por John Tenniel (que merecem atenção especial, pois são lindíssimas).

Em 1865 o primeiro livro foi publicado e fez tanto sucesso que foi lido até pela Rainha Vitória. A história começa com Alice entediada lendo um livro sem figuras, sentada no campo, até que vê um coelho branco correndo. O coelho veste casaca e colete e segue dizendo que está muito atrasado, tirando um relógio do bolso. Alice, espantada, resolve segui-lo até sua toca, na qual ela cai...e fica caindo por muito tempo.

O resto da história vocês com certeza conhecem. Alice vai parar no País das Maravilhas, onde tudo o que ela come a faz crescer ou diminuir. Conversa com criaturas bem estranhas, como a lagarta que fuma narguilé, o bebê que se transforma em um porco, o gato de Cheshire, o Chapeleiro Maluco e a Lebre de Março. Sem esquecer que Alice também é convidada para jogar croqué com a Rainha de Copas, que tem o habito peculiar de mandar decapitar qualquer um que não a agrade.

No fim, todas as aventuras de Alice no País das Maravilhas não passaram de um sonho da garota, que acabou adormecendo na relva lendo seu livro sem figuras.



O segundo livro “Através do Espelho e o que Alice Encontrou por Lá” foi publicado em 1872. Muitas pessoas não sabem da existência do segundo livro pois No País das Maravilhas foi adaptado para o cinema e para o teatro muito mais vezes.

Como o próprio livro já diz, Alice vai visitar o mundo que se esconde do outro lado do espelho. Por esse motivo, o mundo do espelho é todo ao reverso do nosso mundo, o que rende alguns diálogos bem divertidos entre Alice e as criaturas que ela encontra lá.

Se no primeiro livro o mote principal era o jogo de cartas (baralho), em Através do Espelho a obra navega pelo tabuleiro de xadrez. Alice é uma das peças do estranho jogo entre peças brancas e vermelhas, e a cada capítulo avança algumas casas até se tornar, no final, a Rainha Alice.

Alguns dos personagens usados por Walt Disney em Alice no País das Maravilhas são, na realidade, de Alice Através do Espelho, como os gêmeos Tweedledum e Tweedledee e as flores falantes. Mas o livro ainda tem outros personagens extremamente estranhos e divertidos, como Humpty Dumpty, uma espécie de ovo gigante que fala e é mal humorado, e o Leão e o Unicórnio, que diariamente batalham pela coroa do Rei.

No fim Alice acorda em sua casa, numa poltrona quentinha, com a lareira acessa e sua gatinha no colo. Mais uma vez, tudo não passou de um sonho. E se você, assim como eu, gosta de histórias com um sentido, esse livro não é muito para você.

Lewis Caroll foi um dos precursores do nonsense, que em inglês significa sem sentido, e a proposta desse movimento era exatamente essa, fazer histórias ou poemas malucos que não tinham nenhuma espécie de uniformidade. O nonsense depois influenciou as escolas de arte modernistas, como o surrealismo e o dadaísmo. Por isso qualquer (enorme) semelhança (ou falta de nexo) não é mera coincidência.

Meu processo de leitura foi tranquilo porque depois de anos lutando para entender Alice apenas aceitei que a obra não foi feita para ser entendida. Demorei um pouco mais no segundo livro, pois tem momentos mais arrastados, com muita poesia nonsense. Mesmo assim foi uma leitura muito válida e gratificante. Eu e a Alice ainda não somos lá muito amigas, mas já podemos trocar algumas figurinhas.


 
O Autor

Lewis Caroll nasceu em Cheshire, Inglaterra, em 1832 e seu verdadeiro nome era Charles Lutwidge Dodgson. Foi professor de matemática e por isso, os entendedores de sua obra dizem que há inúmeros problemas matemáticos e jogos de lógica em “Alice”, coisa que é óbvio, eu nunca irei perceber.

Além de ser famoso por suas obras, o autor ficou conhecido por ter relações muito próximas com crianças, meninas para ser mais exata. Ele trocava correspondência com elas e gostava de fotografá-las, inclusive nuas. Polêmicas à parte, nunca ficou provado que ele estabelecia relações sexuais com menores, e sinceramente, esperamos que isso de fato nunca tenha acontecido.

Alice Lidell
Alice nasceu da relação entre Caroll e Alice Liddell, filha do diretor da Universidade em que o escritor lecionava. Em um passeio de barco pelo rio Tâmisa com Alice e suas outras irmãs, Carol, a pedido das meninas, criou um conto de fadas para elas, e depois, à pedido de Alice, o transformou em um livro. A Alice original não é loira, mas sim morena.
Caroll morreu em 1898 em decorrência de uma bronquite.







Meus queridinhos

Tenho três personagens amados em Alice. O gato de Cheshire ou O Gato que Ri, o Coelho Branco e o Chapeleiro Maluco. Para mim cada um deles tem uma simbologia interessante. Gatos são misteriosos e apaixonantes, e um gato que sorri é quase como uma esfinge, pedindo para ser decifrada. O Coelho Branco para mim represente a ansiedade do ser humano, que vive correndo, sempre atrasado, mas que nunca para e pensa. Eu também me identifico com ele porque eu estou sempre atrasada, de verdade.

Por fim, o Chapeleiro Maluco é para mim o único são dentro de um mundo de doidos. Muitas vezes, na nossa sociedade, àqueles que realmente enxergam são taxados de loucos. Ele diz o que pensa e reverte a ordem natural das coisas.


"We're all mad here..."

9 comentários:

  1. Stela, que post bom! Adorei a forma como você se expressou :)

    Ao contrário de você, sempre gostei de Alice no País das Maravilhas. Justamente por não fazer sentido algum, haha. E olha que eu era bem chatinha. Não sabia de nada sobre Através do Espelho e tudo foi bem surpreendente para mim. Mas, sinceramente, preferi o primeiro livro. É como se o segundo fosse nonsense demais!

    O que achei mais legal foi perceber as pequenas e sutis diferenças entre os personagens dos livros e os personagens da animação do Disney. Não é nada muito evidente, mas achei interessante :)

    Não sei se tenho favoritos, acredita? Acho que o Coelho Branco e a própria Alice. O Chapeleiro é sensacional também. Já no segundo livro, me diverti bastante com o cavaleiro que não conseguia montar no cavalo hehe. :)

    Adorei demais o post! E preciso escrever/gravar as minhas impressões também! Adorei o livro. Acho que vai ser daqueles que lerei várias vezes :)

    Beijos

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    1. Michas :) eu tb ri muito com o pobre cavaleiro que só caia.
      Tb adorei ver as diferenças entre filme e livro. Até pq o filme é bem mais nítido na minha memória.
      Eu vi uma peça de através do espelho que era ótima. Gostei mais da peça do que do livro.
      Beijos

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Olá, Stela!

    Interessante a sua visão de Alice no País das Maravilhas. Quando pequena, também nunca entendi o filme Alice no País das Maravilhas, mas por alguma razão nunca deixei de gostar. Hoje eu já acredito que existe um sentido (filosófico, talvez?) ali, por mais que faça parte desse movimento do qual você fala. Até mesmo o fato de ela estar dormindo e acordar no final é algo para se pensar, eu acho...

    Gosto de pensar que essa obra tem muitos enigmas e me divirto com isso, pois assim cada diálogo se torna importante e uma oportunidade de descobrir o que está por trás daquela conversa aparentemente sem sentido.

    Interessante saber que Lewis Carrol contribuiu para o surrealismo e o dadaísmo. Acho que (pelo menos isso) faz sentido, hahaha

    Beijos,

    Mari
    caixadamari.com

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    1. Oi Mari! Pois é menina, tb fico tentando achar mil e um significados para tudo nessa obra. Acho que talvez o Caroll nem tenha pensado em nenhum sentido, mas a gente teta achar hahahaha.
      Acho muito bacana o surrealismo.
      Beijos

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  4. Eu tenho esse mesmo livro e acho sua edição maravilhosa.
    Sou como você, nonsense não é o tipo de literatura que mais gosto. Li Alice porque tem clássicos que acho que a gente deve conhecer. O fato deles serem tão atuais ainda hoje e permitir uma leitura aproveitosa é o que me chama atenção nele.

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    1. Sim, Kamilla. Concordo totalmente com vc.
      Tb não sou fããã de Alice, mas aprendi a gostar hhahaha
      Beijos flor

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  5. Nunca li o livro, mas conheço bem a história porque já assisti a vários filmes e desenhos, eu até gosto da história, mas não é nem de longe minha animação favorita, também não gosto muito dessa falta de lógica da história. Meu personagem favorito nos filmes é o chapeleiro Maluco...Adorei o post!

    Beijo

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    1. Oi Mah! Tudo bem? É, tem pessoas como eu e vc que gostamos de lógica hahahah não acho que isso seja ruim.
      Muito obrigada flor :)
      Beijos

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