30 de julho de 2015

Pequenas Grandes Mentiras – Liane Moriarty


A autora australiana já havia me surpreendido com seu primeiro romance publicado no Brasil – O Segredo do Meu Marido, mas com Pequenas Grandes Mentiras ela se consolidou como uma das escritoras mais brilhantes e promissoras da atualidade.

Não ache que Liane escreve livros ao estilo ‘chick lit’, que só podem agradar mulheres, com situações bonitinhas e engraçadinhas. Na verdade, seus romances não têm nada de diminutivos. São fortes, impactantes e envolventes. Seus personagens são cheios de facetas, muito bem construídos, assim como os diálogos e descrições. Não há espaço para enfeites desnecessários em sua prosa, assim como não há informação irrelevante.

Pequenas Grandes Mentiras conta a história de três amigas inusitadas. Jane é uma mãe solteira de 24 anos que acaba de se mudar para a região praiana de Pirriwee. Celeste é a mulher mais linda que todos já viram, mãe de gêmeos e casada com um lindo milionário. Madeline é perua, adora comprar uma boa briga e mãe de duas crianças, além de uma adolescente de seu primeiro casamento.


As três logo formam um forte laço, e nós, leitores, acompanhamos a trajetória dessas três mulheres fortes, mas que também têm um lado secreto, em que escondem inseguranças, medos, traumas do passado e do presente. A autora aborda com maestria as pequenas e grandes mentiras que cada um de nós contamos para sobreviver. Sejam elas as mentiras que contamos para os outros ou as que contamos para nós mesmos.

Desde o primeiro capítulo sabemos que, no fim dessa história, ocorreu um assassinato em uma festa da escola pública local, e ao final de cada capítulo temos relatos de personagens secundários sobre o ocorrido. Essa estratégia é perfeita para manter o leitor atento a cada detalhe, construindo a cada momento hipóteses: quem morreu? Quem matou? Por que matou? Entre tantos outros mistérios que vão surgindo conforme a leitura.

Em resumo, Pequenas Grandes Mentiras é daqueles livros que você não quer largar, cheio de surpresas e reviravoltas. Ao final você sente vontade de ler tudo outra vez, sobre outra ótica. Assustadoramente bom.


 Nicole Kidman e Reese Witherspoon adquiriram os direitos da trama para transformá-la em uma série de tv, que ainda não tem data de estreia, mas será transmitida pela HBO. Aguardemos. 


25 de julho de 2015

Para todos os Garotos que já Amei - Janny Han


Lara Jean sempre viveu uma vida confortável e sem muitos problemas ao lado de seu pai obstetra e suas duas irmãs, kitty, de nove anos, e Margot, a irmã mais velha, que desde de a morte da mãe assumiu a incumbência de cuidar da casa. Margot sempre foi a irmã racional, extremamente organizada e responsável.

Porém, Margot está de mudança para a Escócia, onde fará a faculdade, e Lara Jean se vê obrigada a assumir todas as responsabilidades da irmã mais velha – cuidar da casa, da irmã mais nova, das compras de supermercado, etc.

Acostumada a não sair de seu casulo, Lara Jean nunca se expôs e sempre guardou seus sentimentos só para si. Para cada garoto que ela já amou ela escreveu uma carta, mas só quando quando queria acabar com aqueles sentimentos. Ao terminar, fechou os envelopes, as endereçou e as guardou em uma caixa de chapéu azul petróleo, presente da sua mãe falecida. Mas nunca as enviou. Até que um dia todas essas cartas somem e são enviadas para esses garotos.



Lara Jean então tem que confrontar seu melhor amigo, Josh (e namorado de Margot), e o garoto mais popular da escola, Peter, que receberam suas cartas confessando seus sentimentos. E cada vez que tenta tornar as coisas mais fáceis, elas ficam mais e mais enroladas, criando situações hilárias, fofas e sensíveis, em uma história de amor não só entre garotos e garotas, mas também entre irmãs e pais e filhos.

A relação entre as irmãs Song, que tentam manter viva a memória da mãe coreana, é um dos pontos mais legais do livro, não só pela relação muito bonita das meninas, mas também pelo fato das garotas serem meio coreanas, algo pouco comum na literatura americana, tão dominada por garotas louras, brancas, magras e populares.


Em resumo, ‘Para todos os garotos que já amei’, é uma leitura prazerosa, rápida, e que faz a gente se lembrar de porque gostamos tanto de histórias para adolescentes, cheias de reviravoltas, casais inusitados, momentos de drama e claro, a escola (personagem essencial). Eu, pessoalmente, me identifiquei muito com a personagem principal. Assim como eu Lara Jean é uma garota que gosta de ler, ficar em casa, lendo, vendo tv, fazendo bolos e tricô. Por ter gostado tanto dessa leitura eu a concluí em um único dia, algo extremamente raro.


22 de julho de 2015

Viagem à Gonçalves - Minas Gerais


Em um fim de semana de Julho, eu, mamãe e padrasto fomos visitar a pequena e fofa cidade mineira de Gonçalves, que fica no Sul do estado. A cidade é serrana, envolta em um mar de montanhas verdes e de araucárias.

Vale a pena visitar se você gosta de lugares friozinhos, aconchegantes e cheios de lugares com comidas gostosas - café passado na hora, bolos de vovó, queijos e outras guloseimas.

Nós nos hospedamos na pousada Trem das Cores, que tem casinhas para quatro ou mais pessoas, conta com lareiras nos quartos e uma cozinha com fogão à lenha!

A cidade também é um ponto de turismo ecológico e de aventura.


Orvalho pela manhã 

Eu e mamãe junto as belas araucárias e o frio.

Belo achado em um café, obras completas de Monteiro Lobato, Eça de Queirós e Machado de Assis.


Flor de Cerejeira aka Sakura

Mar de araucárias

Aproveita e veja o vlog da viagem:

2 de julho de 2015

Watchmen – The Deluxe Edition

Alan Moore e Dave Gibbons 


Essa edição maravilhosa é a edição americana de luxo de Watchmen, e foi um presente muito especial de aniversário que ganhei do meu namorado. Para os curiosos ele comprou na Amazon.com e eu não sei quanto custou.

A edição americana é muito mais caprichada que a edição brasileira, publicada pela Panini. Ela tem uma jacket em soft-touch, a folha de guarda é toda amarela, e as folhas de rosto também são muito caprichadas. Ao final de cada capítulo há algumas páginas que imitam publicações da época sobre cada herói (fac-símiles de revistas, jornais, arquivos, etc). As últimas páginas são dedicadas a esboços, arte conceitual, desenvolvimento de personagens e outros sketches.

Antes do primeiro capítulo há um prefácio excepcional escrito pelo ilustrador Gibbons em 2013. Ele explica que tudo começou com Bob Dylan e a canção ‘Desolation Row’, mais precisamente a frase “At Midnight all the agents and the superhuman crew. Come out and round up everyone that knows more than they do” (algo como “À meia-noite todos os agentes e o grupo de super humanos vêm e se juntam, todos que sabem mais do que eles sabem”).

O desenhista explica que quando watchmen surgiu, uma mera ideia, mal formada, em 1985, os quadrinhos eram uma forma de expressão à margem, algo de um nicho muito específico e que a maioria dos críticos desconsiderava, como diversão para crianças e nerds.

Watchmen é um marco na história da HQ americana por quebrar todas essas ideias pré-concebidas e expectativas. Originalmente publicada pela DC em 12 volumes de 1986 a 1987, o quadrinho conta a história de um grupo de super-heróis (na verdade heróis mascarados), que após anos lutando para manter a ordem em Nova York, se veem obrigados a se aposentarem, pois heróis agora são considerados ilegais.


Alguns desses heróis revelam suas identidades e passam a trabalhar para o governo ou para empresas privadas e se tornam milionários. Outros nunca revelam sua identidade e vivem uma vida comum. Apenas um deles continua a atuar, mesmo na ilegalidade. Tudo começa quando o Comediante é assassinado e uma série de investigações leva a crer que os heróis estão sendo eliminados, um por um.

Watchman é marcante pelas suas discussões profundas sobre ética e moral, tanto pessoal quanto cívica, além do seu alto grau de eruditíssimo. Não são poucas as referências à filosofia, literatura, música, artes visuais, psicologia, religião, entre outras áreas do conhecimento humano. Não é de se admirar que o quadrinho tenha ganhado todos os prêmios de sua área como também alguns nas áreas de literatura.

A famosa frase “Who Watches de Watchmen?” é de uma sátira do poeta e retórico romano, Juvenal: “Quis custodiet ipsos custodes”, ou seja “Quem vigia os vigilantes?”. Dessa maneira a história de Alan Moore é um grande questionamento sobre o poder, tanto da política e seus articuladores quanto às outras esferas de vigilância: a mídia, os cidadãos e a própria noção de super-herói incorruptível e acima do bem e do mal.


Wathchmen se passa em um futuro alternativo em que Nixon levou os EUA à vitória contra o Vietnã e está vivendo um momento de tensão extrema na Guerra Fria contra a União Soviética. O clima nas ruas é pesado e toda a história é cheia de desesperança quanto ao futuro, violência e apatia quando ao presente, o que reflete perfeitamente o espírito (ou para ser mais douta, o zeitgeist) daquela época.

Filme x Quadrinho


O filme baseado no quadrinho é de 2009 e foi dirigido por Zach Snyder (300, Batmans vs Superman, Esquadrão Suicida) e está disponível no Netflix. Ele é visualmente muito bem produzido, com frames que lembram ou então são reconstituições exatas dos quadrinhos. Interessante ressaltar que quando Watchmen foi publicado, uma de suas revoluções foi trazer uma montagem de imagens que lembravam os frames do cinema.

Porém, o final do filme tem um elemento completamente diferente do quadrinho. O final da obra cinematográfica é uma saída mais fácil, tanto em termos de roteiro quanto de montagem. Seria difícil filmar o mesmo final do quadrinho, assim como seria bem mais difícil explica-lo para o público.

Na minha opinião o final escrito por Moore é mais impactante e faz as questões morais e éticas serem pensadas ainda mais profundamente. Watchmen é um quadrinho que você precisa ler pelo seu peso no mundo da arte e da comunicação, e se você, como eu, gosta de quadrinhos e cultura pop é uma leitura mais do que essencial.