20 de abril de 2015

A Segunda Pátria – Miguel Sanches Neto


Já pensou se, na Segunda Guerra Mundial, o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, tivesse se aliado ao Eixo e não aos Aliados? Já pensou se o sul do Brasil, majoritariamente colonizado por alemães, tivesse sucumbido ao regime nazista?

Pois essa é a premissa de ‘A Segunda Pátria’, do escritor paranaense Miguel Sanches Neto. A obra é dividida em quatro partes, e segue cerca de quatro núcleos de personagens. A história se inicia no ano de 1940, em Blumenau, quando o engenheiro negro, Adolpho Ventura, começa a sentir que a cor de sua pele é agora um problema para seus conterrâneos.

A partir daí, Adolpho começa a ser humilhado por antigos amigos, ignorado por conhecidos, e vê a sua vida e de seu filho recém-nascido (fruto de uma união com uma alemã) mudar para sempre.

Em outro foco narrativo conhecemos Hertha, filha de alemães, nascida no Brasil, e criada por um tio. Desde muito nova Hertha foi introduzida à juventude hitlerista, chegando a viajar para a Alemanha para conhecer seus ‘companheiros de luta’. Considerada uma das mulheres mais belas da raça ariana, a garota sempre teve uma sexualidade muito aflorada e liberta.


Seguindo esses dois personagens tão distintos, um homem negro, de origem muito pobre, mas que é extremamente inteligente e estudado, e uma ariana que não estudou, mas usa da sedução para atingir seus objetivos, vemos como o partido nazista passa a comandar Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, sem o menor empecilho por parte do governo brasileiro.

Aqui, os perseguidos em maior escala serão os negros, que, vistos como uma raça inferior, são conduzidos às fazendas de trabalho forçado, quase como uma volta ao período terrível da escravidão.

‘A Segunda Pátria’ é um exercício de ficção, mas que se baseia em fatos e pessoas que realmente existiram. De nenhuma forma o romance é fantasioso e recorre a explicações mágicas para acontecimentos que poderiam um dia ter acontecido em nosso país, apesar de não fornecer todas as respostas quanto a como seria esse regime nazista no Brasil.


Porém, acredito que fazer um tratado sobre esse possível rumo político não era a intenção do autor, que mais queria mostrar como vida de pessoas comuns podem ser dilaceradas por ideologias que excluem e odeiam tudo o que é diferente, assim como a devastação da Guerra.


A linguagem adotada por Miguel Sanches Neto faz juz ao tema. É seca, quase autoritária. Não há espeço para poesia quando o assunto tratado é tão árido. ‘A Segunda Pátria’ é uma excelente leitura, principalmente para se pensar e refletir sobre o Brasil que foi, que é, e que pode vir a ser.



2 de abril de 2015

Alltruísmo - Guilherme Ramos


'Alltruísmo' é o livro de estreia do brasileiro Guilherme Ramos, lançado no mês passado (Março) pelo selo Talentos da Literatura Brasileira, da editora Novo Século.

O livro é uma coletânea de poemas, crônicas e contos do também publicitário. Vários temas são abordados, a começar pelos relacionamentos amorosos, os encontros e desencontros da vida. Depois, há a abordagem das relações de amor familiar, as relações de trabalho, do homem com seus iguais e do home com o dinheiro. E, por fim, da busca pela harmonia, tanto das relações interpessoais como também do homem com sua espiritualidade.

Todas as partes do livro são bem interessante porque Guilherme trabalhou por anos na área de recursos humanos, estudou psicologia, e segundo o próprio autor, sua inspiração vem dos seres humanos e suas relações, tudo aquilo que ele vê e sente se transforma em arte.


Para mim, a parte mais interessante é como Guilherme aborda, de forma bem humorada e inteligente, o fato de os seres humanos estarem cada vez mais distantes, uns dos outros, graças as suas diferentes visões, pontos de vistas e falta de tolerância.

A edição é muito bonita, a começar pela capa, com uma ilustração em aquarela. Dentro do livro há poesias gráficas, além de algumas bonitas ilustrações.


Indico o livro para todas as pessoas que querem conhecer novos autores, incentivar a literatura nacional. Além disso é uma ótima ideia de presente. No final do livro, o próprio Guilherme propõe que você dê seu exemplar a outra pessoa, circule suas ideias. Afinal, de que serve um livro se não for lido?


Você tem carne pra quê?

Conforme ampliamos nossa consciência, aceitamos a possibilidade de outras dimensões; isto é, já não é mais útil acreditarmos que a verdadeira vida se expressa somente com carne, osso, verdades relativas - fruto da doença crânica desse plano: egoísmo.

Guilherme Ramos