1 de fevereiro de 2014

Um Bonde Chamado Desejo (1951)

 Por alguém motivo que nem nosso amigo Freud explica, até esse fim de semana eu nunca havia assistido à Um Bonde Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire). O que é muito estranho já que os atores principais são os meus amados Marlon Brando e Vivien Leigh.
O filme é praticamente a peça de teatro homônima, ganhadora do Pulitzer, filmada. Escrita por Tennessee Williams em 1947, estreou na Broadway em 3 de Dezembro do mesmo ano, sendo dirigida por Elia Kazan e tendo Marlon Brando no papel de Stanley Kowalski foi um sucesso instantâneo.

Em 1951 o mesmo Kazan dirigiu a versão cinematográfica e Marlon Brando também manteve seu papel. Porém, a atriz que interpretava Blanche DuBois na Broadway não foi aprovada para o cinema e em seu lugar entrou Vivien Leigh, ganhadora do Oscar de Melhor Atriz por ‘E o Vento Levou...’.

A história começa com a sulista Blanche DuBois chegando a Nova Orleans para visitar sua irmã casula, Stella (Kim Hunter). Blanche pega o bonde ‘Desejo’ para ir até o lugar decadente em que Stella mora com seu marido, o filho de imigrantes poloneses Stanley Kowalski. Logo fica claro que Blanche não é lá uma pessoa muito comum, extremamente nervosa e preocupada com sua aparência, além de ser viciada em bebidas alcoólicas.




Quando Blanche e Stanley se conhecem é impossível não notar uma tensão entre os dos personagens, que em todo filme se estabelecem como polos opostos. Blanche não consegue disfarçar a repulsa e ao mesmo tempo o desejo que sente pelo cunhado, que é rude, dado à explosões de raiva e sem nenhum refinamento.

O filme é uma sucessão de acontecimentos banais, regados a diálogos em que Blanche expressa toda a sua nostalgia pelos tempos de glória de sua família sulista, e histórias que mesclam realidade com ilusão, já que a personagem claramente tem uma percepção alterada do que é real e imaginário.

Enquanto o tempo passa, o relacionamento de Stanley e Stella fica abalado pela constante presença de Blanche na casa. O casal tem uma relação que beira a doentia. Entre agressões verbais e físicas os dois são ligados por um laço de mútua dependência física e psicológica. Stanley, desconfiado da cunhada, começa a investigar seu passado e descobre que a postura de moça pura e recatada não passa de uma máscara.

Mitch (Karl Malden), um dos amigos de pôquer de Stanley, se apaixona por Blanche, e os dois estão prestes a se casar quando os segredos dela vêm à tona. Em seguida Stella dá entrada no hospital para dar à luz seu primeiro filho. Entre esses dois acontecimentos Blanche entra em um estado constante de ‘sonho’, do qual ela é desperta pela chegada do cunhado.

Os dois estão sozinhos no apartamento e a cena sugere que Stanley violenta Blanche, dizendo ‘afinal, você sempre quis isso’. Então há um corte para alguns dias à frente. Os homens jogam pôquer na cozinha, Stella e sua vizinha cuidam do bebê enquanto Blanche se arruma, pois, de acordo com suas fantasias, ela irá sair em um cruzeiro junto à um milionário.

Na realidade Blanche será levada para um hospital psiquiátrico. Stanley diz que nunca fez nada a ela; e Stella promete nunca o perdoa-lo por ter feito mal a sua irmã. O filme acaba com a célebre fala de Blanche para o psiquiatra: ‘Quem quer que você seja, eu sempre dependi da bondade de estranhos...’ (“Whoever you are, I have always depended on the kindness of strangers…".

O filme até hoje é tido como controverso e subversivo. Na versão original a parte que sugere que o marido falecido de Blanche se matara por ser homossexual foi censurada. Ainda há toda a questão complexa do relacionamento abusivo de Stanley e Stella. Os dois são unidos por uma forte atração sexual, que fica evidente mesmo sem haver cenas de sexo ou nudez.

Outra questão polêmica é a loucura e carência de Blanche. Dizem que a personagem foi inspirada na irmã de Tennessee Willians, que sofria de problemas mentais. Porém, ao abordar temas chocantes e viscerais, tanto a peça quanto o filme propiciam uma experiência catártica, e leva o espectador a se colocar no lugar de casa uma daquelas personagens decadentes, vivendo na precariedade e em meio a uma sujeira que parece ser inata à natureza humana.


O filme rendeu mais um Oscar de melhor atriz à Vivien Leigh, e de melhor ator e atriz coadjuvante. Marlon Brando foi indicado como melhor ator e Kazan como melhor diretor. Os dois perderam, mas ganharam no ano seguinte com o também clássico “Sindicato de Ladrões’. Mas esse filme é assunto para um outro post...


Nenhum comentário:

Postar um comentário