“If I had a world of my own, everything would
be nonsense”
Quando eu era criança eu era
apaixonada por certas histórias. Minha preferida era ‘pele de asno’ ou ‘bicho
peludo’, dos irmãos Grimm. Mas eu gostava de um monte de outros contos de
fadas. Mas havia duas histórias das quais eu não gostava: Chapeuzinho Vermelho
e Alice no País das Maravilhas.
Meu problema com Alice não era um
só, eram muitos. Eu achava a Alice uma menina muito chatinha e inconsequente.
Não aguentava ela crescendo e diminuindo toda hora e, no fim, ela acordar e
perceber que tudo foi um sonho. Desde pequena eu gostava de histórias
coerentes.
Mas o tempo passou e eis que aos
quase 24 anos eu resolvi ler a obra do inglês Lewis Caroll, depois de tanto
ensaiar. Li a belíssima edição de bolso de luxo da editora Zahar. Uma
curiosidade é que a tradução de Maria Luiza X. de A. Borges foi vencedora da
categoria no Prêmio Jabuti. A edição traz os dois livros: “Alice no País das
Maravilhas” e “Alice Através do Espelho” com as ilustrações originais, feitas
por John Tenniel (que merecem atenção especial, pois são lindíssimas).
Em 1865 o primeiro livro foi
publicado e fez tanto sucesso que foi lido até pela Rainha Vitória. A história
começa com Alice entediada lendo um livro sem figuras, sentada no campo, até
que vê um coelho branco correndo. O coelho veste casaca e colete e segue
dizendo que está muito atrasado, tirando um relógio do bolso. Alice, espantada,
resolve segui-lo até sua toca, na qual ela cai...e fica caindo por muito tempo.
O resto da história vocês com
certeza conhecem. Alice vai parar no País das Maravilhas, onde tudo o que ela
come a faz crescer ou diminuir. Conversa com criaturas bem estranhas, como a
lagarta que fuma narguilé, o bebê que se transforma em um porco, o gato de
Cheshire, o Chapeleiro Maluco e a Lebre de Março. Sem esquecer que Alice também
é convidada para jogar croqué com a Rainha de Copas, que tem o habito peculiar
de mandar decapitar qualquer um que não a agrade.
No fim, todas as aventuras de
Alice no País das Maravilhas não passaram de um sonho da garota, que acabou
adormecendo na relva lendo seu livro sem figuras.
O segundo livro “Através do
Espelho e o que Alice Encontrou por Lá” foi publicado em 1872. Muitas pessoas
não sabem da existência do segundo livro pois No País das Maravilhas foi
adaptado para o cinema e para o teatro muito mais vezes.
Como o próprio livro já diz,
Alice vai visitar o mundo que se esconde do outro lado do espelho. Por esse
motivo, o mundo do espelho é todo ao reverso do nosso mundo, o que rende alguns
diálogos bem divertidos entre Alice e as criaturas que ela encontra lá.
Se no primeiro livro o mote
principal era o jogo de cartas (baralho), em Através do Espelho a obra navega
pelo tabuleiro de xadrez. Alice é uma das peças do estranho jogo entre peças
brancas e vermelhas, e a cada capítulo avança algumas casas até se tornar, no
final, a Rainha Alice.
Alguns dos personagens usados por
Walt Disney em Alice no País das Maravilhas são, na realidade, de Alice Através
do Espelho, como os gêmeos Tweedledum e Tweedledee e as flores falantes. Mas o
livro ainda tem outros personagens extremamente estranhos e divertidos, como
Humpty Dumpty, uma espécie de ovo gigante que fala e é mal humorado, e o Leão e
o Unicórnio, que diariamente batalham pela coroa do Rei.
No fim Alice acorda em sua casa,
numa poltrona quentinha, com a lareira acessa e sua gatinha no colo. Mais uma
vez, tudo não passou de um sonho. E se você, assim como eu, gosta de histórias
com um sentido, esse livro não é muito para você.
Lewis Caroll foi um dos
precursores do nonsense, que em inglês significa sem sentido, e a proposta
desse movimento era exatamente essa, fazer histórias ou poemas malucos que não
tinham nenhuma espécie de uniformidade. O nonsense depois influenciou as
escolas de arte modernistas, como o surrealismo e o dadaísmo. Por isso qualquer
(enorme) semelhança (ou falta de nexo) não é mera coincidência.
Meu processo de leitura foi
tranquilo porque depois de anos lutando para entender Alice apenas aceitei que
a obra não foi feita para ser entendida. Demorei um pouco mais no segundo
livro, pois tem momentos mais arrastados, com muita poesia nonsense. Mesmo
assim foi uma leitura muito válida e gratificante. Eu e a Alice ainda não somos
lá muito amigas, mas já podemos trocar algumas figurinhas.
O Autor
Lewis Caroll nasceu em Cheshire,
Inglaterra, em 1832 e seu verdadeiro nome era Charles Lutwidge Dodgson. Foi
professor de matemática e por isso, os entendedores de sua obra dizem que há
inúmeros problemas matemáticos e jogos de lógica em “Alice”, coisa que é óbvio,
eu nunca irei perceber.
Além de ser famoso por suas
obras, o autor ficou conhecido por ter relações muito próximas com crianças,
meninas para ser mais exata. Ele trocava correspondência com elas e gostava de
fotografá-las, inclusive nuas. Polêmicas à parte, nunca ficou provado que ele
estabelecia relações sexuais com menores, e sinceramente, esperamos que isso de
fato nunca tenha acontecido.
![]() |
Alice Lidell |
Alice nasceu da relação entre
Caroll e Alice Liddell, filha do diretor da Universidade em que o escritor
lecionava. Em um passeio de barco pelo rio Tâmisa com Alice e suas outras
irmãs, Carol, a pedido das meninas, criou um conto de fadas para elas, e
depois, à pedido de Alice, o transformou em um livro. A Alice original não é
loira, mas sim morena.
Caroll morreu em 1898 em
decorrência de uma bronquite.
Meus queridinhos
Tenho três personagens amados em Alice. O gato de Cheshire
ou O Gato que Ri, o Coelho Branco e o Chapeleiro Maluco. Para mim cada um deles
tem uma simbologia interessante. Gatos são misteriosos e apaixonantes, e um
gato que sorri é quase como uma esfinge, pedindo para ser decifrada. O Coelho
Branco para mim represente a ansiedade do ser humano, que vive correndo, sempre
atrasado, mas que nunca para e pensa. Eu também me identifico com ele porque eu
estou sempre atrasada, de verdade.
Por fim, o Chapeleiro Maluco é para mim o único são dentro
de um mundo de doidos. Muitas vezes, na nossa sociedade, àqueles que realmente
enxergam são taxados de loucos. Ele diz o que pensa e reverte a ordem natural
das coisas.
Stela, que post bom! Adorei a forma como você se expressou :)
ResponderExcluirAo contrário de você, sempre gostei de Alice no País das Maravilhas. Justamente por não fazer sentido algum, haha. E olha que eu era bem chatinha. Não sabia de nada sobre Através do Espelho e tudo foi bem surpreendente para mim. Mas, sinceramente, preferi o primeiro livro. É como se o segundo fosse nonsense demais!
O que achei mais legal foi perceber as pequenas e sutis diferenças entre os personagens dos livros e os personagens da animação do Disney. Não é nada muito evidente, mas achei interessante :)
Não sei se tenho favoritos, acredita? Acho que o Coelho Branco e a própria Alice. O Chapeleiro é sensacional também. Já no segundo livro, me diverti bastante com o cavaleiro que não conseguia montar no cavalo hehe. :)
Adorei demais o post! E preciso escrever/gravar as minhas impressões também! Adorei o livro. Acho que vai ser daqueles que lerei várias vezes :)
Beijos
Michas :) eu tb ri muito com o pobre cavaleiro que só caia.
ExcluirTb adorei ver as diferenças entre filme e livro. Até pq o filme é bem mais nítido na minha memória.
Eu vi uma peça de através do espelho que era ótima. Gostei mais da peça do que do livro.
Beijos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá, Stela!
ResponderExcluirInteressante a sua visão de Alice no País das Maravilhas. Quando pequena, também nunca entendi o filme Alice no País das Maravilhas, mas por alguma razão nunca deixei de gostar. Hoje eu já acredito que existe um sentido (filosófico, talvez?) ali, por mais que faça parte desse movimento do qual você fala. Até mesmo o fato de ela estar dormindo e acordar no final é algo para se pensar, eu acho...
Gosto de pensar que essa obra tem muitos enigmas e me divirto com isso, pois assim cada diálogo se torna importante e uma oportunidade de descobrir o que está por trás daquela conversa aparentemente sem sentido.
Interessante saber que Lewis Carrol contribuiu para o surrealismo e o dadaísmo. Acho que (pelo menos isso) faz sentido, hahaha
Beijos,
Mari
caixadamari.com
Oi Mari! Pois é menina, tb fico tentando achar mil e um significados para tudo nessa obra. Acho que talvez o Caroll nem tenha pensado em nenhum sentido, mas a gente teta achar hahahaha.
ExcluirAcho muito bacana o surrealismo.
Beijos
Eu tenho esse mesmo livro e acho sua edição maravilhosa.
ResponderExcluirSou como você, nonsense não é o tipo de literatura que mais gosto. Li Alice porque tem clássicos que acho que a gente deve conhecer. O fato deles serem tão atuais ainda hoje e permitir uma leitura aproveitosa é o que me chama atenção nele.
Sim, Kamilla. Concordo totalmente com vc.
ExcluirTb não sou fããã de Alice, mas aprendi a gostar hhahaha
Beijos flor
Nunca li o livro, mas conheço bem a história porque já assisti a vários filmes e desenhos, eu até gosto da história, mas não é nem de longe minha animação favorita, também não gosto muito dessa falta de lógica da história. Meu personagem favorito nos filmes é o chapeleiro Maluco...Adorei o post!
ResponderExcluirBeijo
Oi Mah! Tudo bem? É, tem pessoas como eu e vc que gostamos de lógica hahahah não acho que isso seja ruim.
ExcluirMuito obrigada flor :)
Beijos