Alan Moore e Dave Gibbons
Essa
edição maravilhosa é a edição americana de luxo de Watchmen, e foi um presente
muito especial de aniversário que ganhei do meu namorado. Para os curiosos ele
comprou na Amazon.com e eu não sei quanto custou.
A edição
americana é muito mais caprichada que a edição brasileira, publicada pela
Panini. Ela tem uma jacket em soft-touch, a folha de guarda é toda amarela, e
as folhas de rosto também são muito caprichadas. Ao final de cada capítulo há algumas páginas que imitam publicações da época sobre cada herói (fac-símiles de revistas, jornais, arquivos, etc). As últimas páginas são dedicadas a esboços, arte conceitual, desenvolvimento de personagens e outros sketches.
Antes do
primeiro capítulo há um prefácio excepcional escrito pelo ilustrador Gibbons em
2013. Ele explica que tudo começou com Bob Dylan e a canção ‘Desolation Row’,
mais precisamente a frase “At Midnight all the agents and the superhuman crew. Come
out and round up everyone that knows more than they do” (algo como “À
meia-noite todos os agentes e o grupo de super humanos vêm e se juntam, todos
que sabem mais do que eles sabem”).
O
desenhista explica que quando watchmen surgiu, uma mera ideia, mal formada, em
1985, os quadrinhos eram uma forma de expressão à margem, algo de um nicho
muito específico e que a maioria dos críticos desconsiderava, como diversão
para crianças e nerds.
Watchmen é
um marco na história da HQ americana por quebrar todas essas ideias pré-concebidas
e expectativas. Originalmente publicada pela DC em 12 volumes de 1986 a 1987, o
quadrinho conta a história de um grupo de super-heróis (na verdade heróis
mascarados), que após anos lutando para manter a ordem em Nova York, se veem obrigados
a se aposentarem, pois heróis agora são considerados ilegais.
Alguns
desses heróis revelam suas identidades e passam a trabalhar para o governo ou
para empresas privadas e se tornam milionários. Outros nunca revelam sua
identidade e vivem uma vida comum. Apenas um deles continua a atuar, mesmo na
ilegalidade. Tudo começa quando o Comediante é assassinado e uma série de
investigações leva a crer que os heróis estão sendo eliminados, um por um.
Watchman é
marcante pelas suas discussões profundas sobre ética e moral, tanto pessoal quanto
cívica, além do seu alto grau de eruditíssimo. Não são poucas as referências à
filosofia, literatura, música, artes visuais, psicologia, religião, entre
outras áreas do conhecimento humano. Não é de se admirar que o quadrinho tenha
ganhado todos os prêmios de sua área como também alguns nas áreas de
literatura.
A famosa
frase “Who Watches de Watchmen?” é de uma sátira do poeta e retórico romano,
Juvenal: “Quis custodiet ipsos custodes”, ou seja “Quem vigia os vigilantes?”.
Dessa maneira a história de Alan Moore é um grande questionamento sobre o
poder, tanto da política e seus articuladores quanto às outras esferas de vigilância:
a mídia, os cidadãos e a própria noção de super-herói incorruptível e acima do
bem e do mal.
Wathchmen
se passa em um futuro alternativo em que Nixon levou os EUA à vitória contra o
Vietnã e está vivendo um momento de tensão extrema na Guerra Fria contra a
União Soviética. O clima nas ruas é pesado e toda a história é cheia de
desesperança quanto ao futuro, violência e apatia quando ao presente, o que
reflete perfeitamente o espírito (ou para ser mais douta, o zeitgeist) daquela
época.
Filme x Quadrinho
O filme
baseado no quadrinho é de 2009 e foi dirigido por Zach Snyder (300, Batmans vs
Superman, Esquadrão Suicida) e está disponível no Netflix. Ele é visualmente
muito bem produzido, com frames que lembram ou então são reconstituições exatas
dos quadrinhos. Interessante ressaltar que quando Watchmen foi publicado, uma
de suas revoluções foi trazer uma montagem de imagens que lembravam os frames
do cinema.
Porém, o
final do filme tem um elemento completamente diferente do quadrinho. O final da
obra cinematográfica é uma saída mais fácil, tanto em termos de roteiro quanto
de montagem. Seria difícil filmar o mesmo final do quadrinho, assim como seria
bem mais difícil explica-lo para o público.
Na minha
opinião o final escrito por Moore é mais impactante e faz as questões morais e
éticas serem pensadas ainda mais profundamente. Watchmen é um quadrinho que você
precisa ler pelo seu peso no mundo da arte e da comunicação, e se você, como
eu, gosta de quadrinhos e cultura pop é uma leitura mais do que essencial.
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