Já pensou se, na Segunda Guerra
Mundial, o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, tivesse se aliado ao
Eixo e não aos Aliados? Já pensou se o sul do Brasil, majoritariamente
colonizado por alemães, tivesse sucumbido ao regime nazista?
Pois essa é a premissa de ‘A
Segunda Pátria’, do escritor paranaense Miguel Sanches Neto. A obra é dividida
em quatro partes, e segue cerca de quatro núcleos de personagens. A história se
inicia no ano de 1940, em Blumenau, quando o engenheiro negro, Adolpho Ventura,
começa a sentir que a cor de sua pele é agora um problema para seus
conterrâneos.
A partir daí, Adolpho começa a
ser humilhado por antigos amigos, ignorado por conhecidos, e vê a sua vida e de
seu filho recém-nascido (fruto de uma união com uma alemã) mudar para sempre.
Em outro foco narrativo
conhecemos Hertha, filha de alemães, nascida no Brasil, e criada por um tio.
Desde muito nova Hertha foi introduzida à juventude hitlerista, chegando a
viajar para a Alemanha para conhecer seus ‘companheiros de luta’. Considerada
uma das mulheres mais belas da raça ariana, a garota sempre teve uma
sexualidade muito aflorada e liberta.
Seguindo esses dois personagens
tão distintos, um homem negro, de origem muito pobre, mas que é extremamente
inteligente e estudado, e uma ariana que não estudou, mas usa da sedução para
atingir seus objetivos, vemos como o partido nazista passa a comandar Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, sem o menor empecilho por parte do
governo brasileiro.
Aqui, os perseguidos em maior
escala serão os negros, que, vistos como uma raça inferior, são conduzidos às
fazendas de trabalho forçado, quase como uma volta ao período terrível da
escravidão.
‘A Segunda Pátria’ é um exercício
de ficção, mas que se baseia em fatos e pessoas que realmente existiram. De
nenhuma forma o romance é fantasioso e recorre a explicações mágicas para
acontecimentos que poderiam um dia ter acontecido em nosso país, apesar de não
fornecer todas as respostas quanto a como seria esse regime nazista no Brasil.
Porém, acredito que fazer um
tratado sobre esse possível rumo político não era a intenção do autor, que mais
queria mostrar como vida de pessoas comuns podem ser dilaceradas por ideologias
que excluem e odeiam tudo o que é diferente, assim como a devastação da Guerra.
A linguagem adotada por Miguel
Sanches Neto faz juz ao tema. É seca, quase autoritária. Não há espeço para
poesia quando o assunto tratado é tão árido. ‘A Segunda Pátria’ é uma excelente
leitura, principalmente para se pensar e refletir sobre o Brasil que foi, que
é, e que pode vir a ser.
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