Antes de receber da editora Intrínseca o livro ‘Não Sou Uma
Dessas’, tudo o que eu sabia sobre Lena Dunham é que ela era a criadora e
também protagonista de uma série ultra hipada da HBO chamada 'Girls', cuja a linha central da narrativa nunca me interessou.
Sabia também que por ser gordinha e sempre aparecer nua na
série, era considerada uma mulher que quebra padrões e dogmas. Já tinha ouvido dizer também que ela é feminista e liberal, e sei que tem uma tatuagem enorme no braço e um
corte de cabelo esquisito. E ai acabava o que eu ‘sabia’ sobre Lena Dunham.
Em seu livro de estreia Lena conta um pouco sobre sua vida,
desde a infância até o momento em que seu trabalho no cinema e na tv começa a
acontecer. Sua narrativa é fluída e pouco trabalhada. Não há metáforas ou
outras figuras de linguagem mais elaboradas. Ela fala sobre sexo, abuso de
drogas e álcool sem nenhum pudor ou meias palavras, o que pode ser bem impactante.
Talvez seja por isso que o livro vem causando polêmica.
Segundo várias matérias que li pela internet, Lena é acusada de molestar a
irmã, quando o que ela diz no livro é que gostava de protege-la e lhe dar
selinhos. O mesmo ocorre com a cena de estupro, em que a própria Lena diz não
ter encarado como tal, até parar para refletir sobre o ocorrido. A cena é dúbia, uma vez que a própria vítima não achou, na época, que havia sido violentada. Porém, a violência sofrida fica clara.
A parte mais interessante do livro surge quando a diretora
fala, vagamente, sobre seu processo criativo e seus distúrbios psiquiátricos
(TOC e ansiedade) assim como suas conversas com seus terapeutas. Porém, em
outros momentos a narrativa se arrasta, com descrições de acampamentos de verão
enfadonhas e relacionamentos fracassados – que parecem todos muito surreais.
Outra parte extremamente enfadonha é quando a autora começa
a transcrever sua dieta e suas emoções em cada dia da dieta. Por mais que
possamos nos relacionar com os sentimentos de culpa e desespero, ele se torna
repetitivo.
A estrutura do livro, dividido em: Amor e Sexo, Corpo,
Amizade, Trabalho e Panorama, parece fazer sentido, mas, na experiência de
leitura, não funciona. Há repetições desnecessárias e temas jogados, ensaios
confusos. O livro todo parece uma coletânea de memórias esparsas, meio reais,
meio inventadas e que não formam uma unidade coesa de sentido. Não dá pra dizer: Este é um livro que aborda tais assuntos, levanta tais e tais discussões e chega a esta conclusão.
A reflexão final que o livro me trouxe foi que pessoas muito
jovens e sem muito o que dizer, não deveriam escrever livros de memórias, guardadas as devidas proporções. (Anne Frank escreveu um diário que se transformou em livro e era apenas uma adolescente, e ele é uma obra importantíssima). Não
sei o que Lena aprendeu até aqui, mas eu com ela não aprendi quase nada.
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